Maluquinha dos sapatos, eu??
Andar de transportes públicos é sempre uma experiência educativa.
Pois lá ia eu, Magnolia Vanessa, Baronesa de Benfica e arredores, sentadinha e sossegada a pensar na vida, quando uma certa alminha com um ar suspeito escolhe a minha companhia para o ajudar nas suas dúvidas existênciais... Claro, com tanta gente no autocarro, tinha de ser eu a aturá-lo! Devo ter umas luzes em néon na testa a dizer "É maluco? Gosta de sapatos? Fale comigo! Mas mesmo que não perceba de sapatos é maluco, não é? Então está bem" porque tudo o que é gente doida vem ter aqui com a flor...
Quando o rapaz, um perfeito desconhecido, saca de um sapato usado e começa por perguntar-me se aqueles sapatos ficam bem com aquelas calças, desconfiei logo que dali não vinha coisa boa. Tudo bem, eu podia ter ar de quem percebia da coisa, mais um cliente para as consultas de imagem, tudo bem, eu até me esforço por ensinar uns truques, mas isso não são maneiras (nem local) de abordar ninguém! Quando, de seguida, me pergunta se os sapatos são para sujar ou para andarem limpos, eu comecei a contar as paragens que faltavam para chegar ao meu destino. Quando logo depois veio a peculiar questão acerca da suposta cor das minhas botas por dentro, arrepiei-me. Quando as perguntas seguintes já se focavam apenas na questão da limpeza-versus-suor dos pés, achei que o suicídio poderia não ser uma medida assim tão drástica como a pintam. Quando o meu sorriso deixou de ser amarelo, pois já ultrapassava o conceito de cor-de-laranja, quase a roçar o vermelho-beringela, desejei fortemente saber rezar. Quando, pergunta atrás de pergunta, dúvida atrás de dúvida, tudo repetido até à exaustão, olhei à minha volta e vi o ar solidário dos outros passageiros para com a minha triste sorte de pseudo-psicoterapeuta de veículos de transporte de passageiros com curso intensivo tirado em 5 minutos, pensei "vou sair daqui e é já! Andar a pé faz muito bem!"
Despedi-me muito simpáticamente do meu pseudo-cliente (pudera!), pedi a todos os santinhos para que ele não resolvesse acompanhar-me (obrigada minha Santa dos Batons, obrigada Santo Rímel à Prova de Água, obrigada Santo Dolce e Santo Gabbana, obrigada minha Santa da Lingerie) e fiz-me à vida. Claro que o facto de ter de sair umas quantas paragens antes, estar a chover e nem sequer ter chapéu-de-chuva não pesou nem um pouco na minha decisão.
Minha gente, a partir de agora a expressão "maluquinha dos sapatos", como tantas vezes me chamam, ganhou toda uma nova dimensão... Eu sou é muito sã! OK???
3 Comments:
Pois olha que já somos duas: aqui no trabalho vão concerteza deixar de chamar-me "Terror da Auto Estrada": hoje,no Cais do Sodré (atenção à conotação), enquanto esperava por uma colega minha para dar-lhe boleia (ela vinha de barco), estava um tipo andrajoso, malcheiros, barbudo, horripilante, a caminhar para trás e para a frente, ao pé do meu veículo vermelho, como se estivesse incomodado por eu estar ali parada. Aparentemente, estava a tapar-lhe a saída/entrada da sua caixa de papelão da SONY! Eu só pensava: "com a sorte que eu tenho, este tipo ainda entra aqui no carro e pede-me para o levar até ao caixote mais próximo".
Mas não, mas não. Continuou a fazer o mesmo trajecto e quando eu "arranquei" disse-me "então até amanhã oh"...
Oh quê?! Oh era ele olhas...
Camélia
Só faltou virares-te para ele e dizeres "Oh??? Oh??? Quem diz é quem é! Quem diz é quem é!!"
Por isso é que eu ando aqui numa inspiração...
Enviar um comentário
<< Home