Se todos os anos, o 25 de Abril nada mais fizésse que te recordar a idade que vais fazer daí a uns meses, assim na tv, radio e jornais, não sei se ficarias assim tão contente. Além do mais, quando eu era pequenina metiam-me imenso medo aquelas palavras de ordem proferidas de punho fechado, por uns senhores zangados com uns farfalhudos bigodes negros, grandes suíssas, com uns cabelos de risca ao lado, todos desgrenhados mesmo a precisar de ir ao barbeiro, em casacos tweed, golas altas e calças à boca de sino, a gritar furiosamente "REVOLUÇÃO! REVOLUÇÃO! POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!!", tudo a preto e branco e com uma qualidade de imagem assustadora. Eu tremia a aproximação de mais um 25 de Abril. Juro a repetição deste cenário me deu calafrios até aos meus 8/9 anos. Ainda por cima, cancelavam os desenhos animados e substituiam-nos por discursos chatíssimos e intermináveis e paradas militares de fardas cinzentonas. Falo de um trauma de infância! Ok, há coisas boas, mas como já nasci depois da revolução, já não tenho termo de comparação. Daí que agradeço do feriadote... e a possibilidade que me dá de me por a milhas deste país tão belo e democrático!
Só tenho a acrescentar que a Revolução era precisa, mas não da forma como foi encetada. O lema do "povo unido" não foi seguido. Apenas se substituiu uma ditadura por um regime político semelhante, embora proclamassem o oposto (a Magnólia neste momento deve estar a fumegar p/estames, mas tenho de escrever isto). Semelhante no sentido de que também ninguém poderia manifestar-se contra...caramba! Sabemos bem que boa parte dos médicos de hoje, são-no porque obtiveram passagem administrativa nos exames (e o meu de Clínica Geral deve ter sido um desses). Sabemos que a descolonização não foi feita da melhor forma. Sabemos que grandes nomes da Revolução dos Cravos, como por exemplo, Rosa Coutinho, jogou futebol no Ultramar com cabeças decepadas nem substituição da bola. Sabemos que se mantiveram o facilitismo e o abuso de poder, mas agora com outra côr.
Nasci depois da Revolução, logo é óbvio que estou a escrever segundo histórias contadas pelos meus pais, tios e amigos, pois quando até à conclusão do liceu, todos os professores nos incutiam o respeito pela Revolução e os seus representantes. De como teríamos de viver eternamente agradecidos pela maravilha da liberdade...até que cheguei à faculdade e tomei conhecimento do lado económico da "coisa", e por isso escrevi no início que a Revolução era necessária, mas não devia ter sido feita daquela forma! Portugal retrocedeu no tempo. A adicionar aos factos relatados pelos meus pais, familiares e amigos (aqueles que raramente vimos nos documentários da tv), acabei por concluir que para mim o 25 de Abril é apenas mais um feriado no vasto calendário de feriados portugueses, e é também a abertura oficial da época dos caracois no famoso repasto marvilense "O Filho do Menino Júlio dos Caracóis".
E estes foram só "piquenos" exemplos. Existem muitos mais.
E atenção, não quero com isto dizer que a Ditadura é que é o regime político ideal! Nada disso. Só acho que não deviam ter deixado o poder subir-lhes à cabeça. É só isso (até que os tipos foram espertos no sentido em que aproveitaram a revolução das Forças Armadas para fazerem a deles).
Ai..já estou como o outro: muito se poderia dizer sobre o 25 de Abril, mas não tenho tempo, nem conhecimento para tal.
Já sei que vou, muito provavelmente, ser fuzilado pelo que vou dizer, mas creio que não houve honestidade intelectual para saber ver aspectos positivos nos tempos da ditadura. Tentou-se sempre passar uma esponja por cima de tudo o que aconteceu antes do 25 de Abril e rotular tudo como intolerável e fascista. Nunca se encarou o período da ditadura de forma justa, para corrigir o que estava errado e manter o que estava bem. Segundo rezam as crónicas, aqui em casa, as reservas de ouro de Portugal, no tempo de Salazar, estavam no seu máximo, mas as pessoas viviam na miséria. Afinal, 31 anos depois da revolução, o que vemos? Não só o povo continua a viver sem desafogo como o país está na bancarrota, sem dinheiro para mandar cantar um cego. Era preciso mudar alguma coisa, sim, mas era exectamente o contrário do que se fez. Portugal é, hoje em dia, um negócio para servir alguns, para encher os bolsos de indivíduos que muito pouco ou nada deram ao país.
Os que mandavam, antes, continuaram a mandar, depois. Segundo rezam as crónicas, aqui. Mas mesmo assim ganhou-se muita coisa. A Liberdade Aparente, pelo menos.
Antes de correr-vos todos à paulada, e já que cada um se baseia nos relatos que a família contou, eu vou fazer o mesmo e escolho dizer apenas uma coisinha simples: PIDE. Portanto, por isso e por muuuuuuitas mais coisas, desculpem lá, mas eu gosto muito de viver depois de um 25 de Abril...
Meus caros: Precisamos de uma nova revolução! Mas com flores menos pindéricas. Magnolias. É isso A revolução das magnolias. Isto é uma corrente revolucionária. Não a quebres envia isto a 5 amigos e a felicidade bater-te-á á porta.
15 Comments:
Obrigadinha pelo feriado?
Que insensibilidade pela data, Sílvia Alexandra... Ai que grande tau-tau que a menina vai levar!
Se todos os anos, o 25 de Abril nada mais fizésse que te recordar a idade que vais fazer daí a uns meses, assim na tv, radio e jornais, não sei se ficarias assim tão contente.
Além do mais, quando eu era pequenina metiam-me imenso medo aquelas palavras de ordem proferidas de punho fechado, por uns senhores zangados com uns farfalhudos bigodes negros, grandes suíssas, com uns cabelos de risca ao lado, todos desgrenhados mesmo a precisar de ir ao barbeiro, em casacos tweed, golas altas e calças à boca de sino, a gritar furiosamente "REVOLUÇÃO! REVOLUÇÃO! POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!!", tudo a preto e branco e com uma qualidade de imagem assustadora. Eu tremia a aproximação de mais um 25 de Abril. Juro a repetição deste cenário me deu calafrios até aos meus 8/9 anos. Ainda por cima, cancelavam os desenhos animados e substituiam-nos por discursos chatíssimos e intermináveis e paradas militares de fardas cinzentonas. Falo de um trauma de infância!
Ok, há coisas boas, mas como já nasci depois da revolução, já não tenho termo de comparação. Daí que agradeço do feriadote... e a possibilidade que me dá de me por a milhas deste país tão belo e democrático!
Sílvia, onde é que se assina, por favor?
Não podia concordar mais contigo!!
Só tenho a acrescentar que a Revolução era precisa, mas não da forma como foi encetada. O lema do "povo unido" não foi seguido. Apenas se substituiu uma ditadura por um regime político semelhante, embora proclamassem o oposto (a Magnólia neste momento deve estar a fumegar p/estames, mas tenho de escrever isto). Semelhante no sentido de que também ninguém poderia manifestar-se contra...caramba! Sabemos bem que boa parte dos médicos de hoje, são-no porque obtiveram passagem administrativa nos exames (e o meu de Clínica Geral deve ter sido um desses). Sabemos que a descolonização não foi feita da melhor forma. Sabemos que grandes nomes da Revolução dos Cravos, como por exemplo, Rosa Coutinho, jogou futebol no Ultramar com cabeças decepadas nem substituição da bola. Sabemos que se mantiveram o facilitismo e o abuso de poder, mas agora com outra côr.
Nasci depois da Revolução, logo é óbvio que estou a escrever segundo histórias contadas pelos meus pais, tios e amigos, pois quando até à conclusão do liceu, todos os professores nos incutiam o respeito pela Revolução e os seus representantes. De como teríamos de viver eternamente agradecidos pela maravilha da liberdade...até que cheguei à faculdade e tomei conhecimento do lado económico da "coisa", e por isso escrevi no início que a Revolução era necessária, mas não devia ter sido feita daquela forma! Portugal retrocedeu no tempo. A adicionar aos factos relatados pelos meus pais, familiares e amigos (aqueles que raramente vimos nos documentários da tv), acabei por concluir que para mim o 25 de Abril é apenas mais um feriado no vasto calendário de feriados portugueses, e é também a abertura oficial da época dos caracois no famoso repasto marvilense "O Filho do Menino Júlio dos Caracóis".
Vai um pires deles e umas bejecas??
E estes foram só "piquenos" exemplos. Existem muitos mais.
E atenção, não quero com isto dizer que a Ditadura é que é o regime político ideal! Nada disso. Só acho que não deviam ter deixado o poder subir-lhes à cabeça. É só isso (até que os tipos foram espertos no sentido em que aproveitaram a revolução das Forças Armadas para fazerem a deles).
Ai..já estou como o outro: muito se poderia dizer sobre o 25 de Abril, mas não tenho tempo, nem conhecimento para tal.
É isso mesmo,
É isso mesmo,
É isso mesmo!!!!
mainada mainada mainada e maitudo!
ã...
o que eu queria dizer era que
-O 25 de Abril tem muito que se lhe diga.
já disse!
Já sei que vou, muito provavelmente, ser fuzilado pelo que vou dizer, mas creio que não houve honestidade intelectual para saber ver aspectos positivos nos tempos da ditadura. Tentou-se sempre passar uma esponja por cima de tudo o que aconteceu antes do 25 de Abril e rotular tudo como intolerável e fascista. Nunca se encarou o período da ditadura de forma justa, para corrigir o que estava errado e manter o que estava bem. Segundo rezam as crónicas, aqui em casa, as reservas de ouro de Portugal, no tempo de Salazar, estavam no seu máximo, mas as pessoas viviam na miséria. Afinal, 31 anos depois da revolução, o que vemos? Não só o povo continua a viver sem desafogo como o país está na bancarrota, sem dinheiro para mandar cantar um cego. Era preciso mudar alguma coisa, sim, mas era exectamente o contrário do que se fez. Portugal é, hoje em dia, um negócio para servir alguns, para encher os bolsos de indivíduos que muito pouco ou nada deram ao país.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Os que mandavam, antes, continuaram a mandar, depois.
Segundo rezam as crónicas, aqui.
Mas mesmo assim ganhou-se muita coisa.
A Liberdade Aparente, pelo menos.
ps:porra que me enganei 2 vezes, humpf
Oh xôr NROws! Só as reservas d'ouro?! Então e o índice de poupança das famílias portuguesas que era o mais elevado da Europa antes da Revolução?
Agora somos os mais "tesos", até contraímos empréstimos para comprar vassouras! Humpf!
Antes de correr-vos todos à paulada, e já que cada um se baseia nos relatos que a família contou, eu vou fazer o mesmo e escolho dizer apenas uma coisinha simples: PIDE.
Portanto, por isso e por muuuuuuitas mais coisas, desculpem lá, mas eu gosto muito de viver depois de um 25 de Abril...
O 25 de Abril, a Revolução dos Cravos, mudou verdadeiramente a nação.
Do país dos Encravados, Portugal evoluiu decididamente para o País dos Cravas.
E pára de me oferecer porrada, ó Crava Vermelha!
Isso parece-me ser uma técnica intimidatória reminiscente dos tempos da PIDE!...Humpf.
LOL!!
Mas olhem que os tipos da PIDE andavam bem "panteados"....
Meus caros:
Precisamos de uma nova revolução! Mas com flores menos pindéricas. Magnolias. É isso A revolução das magnolias.
Isto é uma corrente revolucionária. Não a quebres envia isto a 5 amigos e a felicidade bater-te-á á porta.
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