Fugimos de quê?
Esta noite, a horas impróprias para grandes filosofias mas a amiga insónia lá tem as razões dela e o amigo Xanax tinha mais que fazer, dei comigo a pensar nas pessoas que me rodeiam. Realmente todos temos histórias diferentes e, como tal, atitudes diferentes perante a vida. Se calhar, para quem tem pêlo na venta como eu, a atitude mais difícil de compreender seja a da não-atitude. Pior, a da fuga em vez de pegar o touro pelos cornos. Bom, tendo em conta esta imagem bonita, talvez a fuga seja considerável... Adiante, Sra Forcada Amadora Da Moita... (Ou não, ou não...)
Por exemplo, o que pode levar-nos ao isolamento? De facto a solidão, quando não forçada (obviamente), é uma fuga. Será a crise existêncial do "been there, done that" que se apodera de nós? Não é suficiente. Achar que tudo à nossa volta perdeu o interesse parece-me uma desculpa bem esfarrapada. É difícil assumir que temos um problema e até conseguirmos chegar aí não há nada a fazer, mesmo que o mundo inteiro cole cartazes nas ruas com letras garrafais a ver se nós acordamos para a realidade. Mas a partir do momento em que estamos conscientes de que esse problema existe e sabemos identificá-lo, para quê retardar uma reacção? Eu já tive a minha dose catastrófica de maus bocados e também já passei o chamado CARAÇAS, mas aprendi que a menos que se tenha fome sem ter algo para comer ou se tenha problemas de saúde para os quais não há solução, não se trata de um problema grave mas sim de uma grande lição de vida. Lição nº 2: reagir. Pois é, mas não somos todos iguais e não podemos obrigar os outros a ir pelo caminho que nós achamos ser o correcto. Não se deve dizer a alguém o que fazer sem ser convidado a tal. E se esse alguém fôr nosso amigo, podemos ultrapassar os limites do bom-senso? Que estatuto nos dá a amizade? Provavelmente temos mesmo de esperar pelo clique da atitude e se os nossos amigos resolverem fugir para baterem com a cabeça lá longe (a distância são eles que ditam) continuamos a gostar deles, certo? O melhor a fazer será dizer-lhes que o telemóvel vai estar sempre ligado, eles podem querer desabafar nem que seja às quatro da manhã...
E se, em vez de "fugimos de quê", eu vos dissesse que a verdadeira questão que aqui coloquei foi "fugimos de quem"? (Pergunta sacaninha, não é?)
Facto: algo correu mal entre duas pessoas. (Ou mais, mas isso das orgias é uma grande chatice, uma pessoa depois não sabe a quem agradecer.)
Consequência: duas. Se fomos destroçados, fugimos para não sofrermos mais; se destroçámos, fugimos dos problemas de consciência, que é coisinha para doer uns tempos. Aqui fugir é pouco, talvez emigrar para uma gruta na Tanzânia seja uma bela ideia. Deve haver pelo menos uma gruta na Tanzânia... Um buraco...? Qualquer coisa rochosa...? Um calhau?? Então se puder ser antes em Bora-Bora, se faz favor, eu agradecia... Assim uma gruta com ar condicionado, uns voiles azuis para combinar com o mar e o pequeno-almoço servido às onze, pode ser? Não? Assim não se pode ter problemas de consciência em condições!! Francamente... Uma pessoa a querer purificar-se... Ah, o texto.
No fundo foge-se sempre é de alguém, mas isso seria uma resposta simples e hoje apeteceu-me encher chouriços. (Outra imagem bonita... A vida não está fácil, ok? A estas horas queriam o quê, Marcelo Rebelo de Sousa? Ora...)
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